Pular para o conteúdo principal

Novo Indicador: Índice de Valores Humanos (IVH)

10/08/2010 - 17h00

Brasileiros dão nota baixa para qualidade de vida no país, diz ONU; região Norte tem pior índice

Fabiana Uchinaka
Do UOL Notícias
Em São Paulo



Quanto falta para o Brasil se tornar um país onde as escolas ofereçam oportunidades reais e trabalhem em conjunto com a família, onde os locais de trabalho deixem as pessoas felizes e realizadas, e onde o atendimento médico não seja apenas eficiente, mas também acolhedor aos pacientes. Pelo novo indicador de desenvolvimento lançado nesta terça-feira (10) pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), ainda falta muito para o Brasil chegar no ideal.
O chamado Índice de Valores Humanos (IVH) é uma média de três outros índices que consideram a vivência e a percepção da população nas áreas da saúde (IVH-S), da educação (IVH-E) e do trabalho (IVH-T) na hora de medir o desenvolvimento em cada uma das cinco regiões do país. Em uma escala de 0 a 1, são pontuados, por exemplo, o respeito no atendimento médico, a qualidade da convivência escolar e familiar e as experiências positivas no ambiente profissional.
Neste primeiro levantamento feito por pesquisadores brasileiros, foram ouvidas 1.887 pessoas em 148 cidades de 24 unidades da federação. As regiões Sul e Sudeste apresentaram os maiores valores de IVH (0,62) e a região Norte, o pior resultado (0,50). O Centro-Oeste e o Nordeste aparecem com 0,58 e 0,56, respectivamente.
Os resultados, no entanto, estão longe do 1, o máximo de avanço que um país pode alcançar. Por exemplo, o IVH-S da região Sudeste, considerada uma das mais desenvolvida, beira a metade do ideal (0,51 de um máximo de 1). Quase um quarto dos entrevistados acha o linguajar médico difícil ou muito difícil, 43% reclamam da demora no atendimento tanto na rede privada quanto na pública, e mais de 70% consideram o interesse demonstrado pelos profissionais de saúde regular ou insuficiente.
No Norte, onde 67% reclamam do tempo de espera nas consultas, 62% da dificuldade em entender o que o médico está dizendo e mais de 85% do atendimento dados pelos profissionais, o IVH-S cai para 0,31.
Já o índice do trabalho foi o que mais contribuiu para a boa colocação da região Sul, onde foi registrada a melhor relação entre vivência de prazer e de sofrimento. No Sudeste, a população relata até mais casos de situações de prazer, mas os momentos de sofrimentos são experimentados em maior número que no Sul.
O IVH-T contabiliza o número de vezes que um trabalhador experimentou 17 tipos de vivência de prazer e 15 de sofrimento nos seis meses anteriores à pesquisa ou no último emprego no caso de desempregados, tais como realização profissional e a liberdade de expressão, o esgotamento emocional e a falta de reconhecimento.
O Sul aparece com IVH-T de 0,84, o Sudeste com 0,80, o Nordeste com 0,78, o Norte com 0,74 e o Centro-Oeste, com 0,68. O Brasil acumulou um índice de 0,79, bem mais alto que os índices da saúde.
No campo da educação, houve pouca variação entre as regiões (0,53 a 0,55), com exceção do Norte que apresentou baixo desempenho também neste índice (0,47). Ali, 40% da população avalia que o mais importante do estudo é garantir um bom emprego. O restante do país (36,2%) considera a educação uma maneira para formar um bom cidadão, percepção que provoca maiores benefícios públicos, e não individuais.
Complemento ao IDH

O Índice de Valores Humanos (IVH) é uma tentativa brasileira de humanizar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que tradicionalmente mede os avanços alcançados por 182 nações em três aspectos: vida longa e saudável (baseado na esperança média de vida ao nascer), acesso ao conhecimento (baseado na alfabetização e na escolarização) e nível de vida digno (baseado no PIB per capita associado ao poder de compra em dólares americanos). Com a participação da população na análise dos serviços nos quais se baseiam os índices do IDH, os números ficam mais reais, e a solução dos problemas, mais eficaz.

Isso quer dizer que, ao contrário do IDH, que serve para orientar políticas governamentais, o IVH aponta caminhos e políticas públicas articuladas entre o governo, as entidades (empresas, escolas, hospitais) e a população.
"Frequentemente vemos política pública que servem para obter um melhor indicador social. Com os índices de valor, podemos medir o resultado pelo processo, pelos aspectos mais qualitativos, pelas experiências vividas e pela opinião das pessoas. E não pela abstração. Antes era: mais trabalho, mais dinheiro. Agora é: como você está vivendo? Eu não posso dizer qual é a expectativa de vida, mas pode dizer que se eu morrer os médicos não estão nem aí”, explicou Flávio Comim, economista-chefe do Pnud Brasil e coordenador do Relatório de Desenvolvimento Humano Brasileiro 2009/2010.
Nesse sentido, o Brasil, que hoje ocupa a 75º posição no ranking mundial com um IDH de 0,813, deve investir em programas multifocais que melhorem a qualidade do serviço prestado na saúde, na educação e no trabalho para que saia de um índice baixo de 0,59 para um mais próximo de 1.

Por exemplo, a partir da percepção de que a educação de uma criança depende de uma relação entre professores e família, de que as inspirações de um jovem são influenciadas pelos ambientes familiar e escolar e de que o desempenho dos pais e dos professores é diretamente afetado pelas experiências negativas ou positivas no mundo do trabalho é possível estabelecer novas soluções para problemas que antes eram tratados separadamente. E uma solução mais ampla: a busca por uma vida com paz e feliz.

Segundo o relatório do Pnud, uma medida simples e eficaz de agregar valor na sociedade e melhorar o ambiente, é inserir o esporte ou as pracinhas no cotidiano da população, que são formas de estimular a socialização, principalmente dos jovens, e acabar com a segregação espacial imposta por muros e ruas.
“Isso não é novo, mas devemos enfatizar, cruzar políticas, apontar os responsáveis pelo mundo ideal. As pessoas só podem cobrar por aquilo que vêem. E é essa especificidade que queremos medir com esse índice, cuja aplicabilidade ainda deve ser construída”, resumiu Comim.
10/08/2010 - 17h00

Veja as perguntas aplicadas pelo Pnud para calcular o IVH

Do UOL Notícias
Em São Paulo

Confira as perguntas usadas pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) para medir a qualidade de vida no Brasil. Foram ouvidas 1.887 pessoas em 148 cidades de 24 unidades da federação. Os dados foram agrupados por regiões e divididos em três sub índices: saúde, educação e trabalho.

Na área da saúde, as perguntas focaram na qualidade do atendimento médico e na humanização dos procedimentos. Já na educação, o questionário tentou abordar a relação entre a famílias e os professores. E no mundo do trabalho, as perguntas foram voltadas para as vivências de prazer e sofrimento.

Segundo os organizadores, as perguntas foram propositalmente feitas de maneira simples e direta. 

1) Na última vez que você esteve no médico ou no posto de saúde ou hospital você sentiu que o tempo de espera foi:

( ) muito/demorado 
( ) normal 
( ) razoável
( ) pouco/rápido

2) Você achou que a linguagem usada pelos médicos(as) e enfermeiros(as) foi:

( ) muito difícil
( ) um pouco difícil
( ) normal
( ) fácil de entender

3) Você sentiu que as opções de tratamento eram:

( ) complicadas
( ) normais
( ) possíveis 
( ) fáceis

4) Você sentiu que a equipe médica:

( ) estava muito interessada e preocupada em lhe ajudar 
( ) demonstrou interesse e preocupação regular 
( ) estava pouco interessada e preocupada com o seu caso

5) Considerando que apenas escola e família influenciam na educação de uma criança, quanto por cento você acredita ser a influência da família?

0% 
10% 
20% 
30% 
40% 
50% 
60% 
70% 
80%
90% 
100%

6) Você conheceu (ou conhece) os professores que dão ou deram aula ao seu filho(s) até o final do primeiro ciclo do ensino fundamental (4ª série ou 5º ano)?

( ) todos
( ) a maioria 
( ) alguns 
( ) nenhum

7) As crianças podem aprender qualidades em casa. Quais qualidades o(a) sr(a) acha que são mais importantes para estimular e ensinar aos seus filhos? Se não tiver filhos pode tratar das que considera mais importantes. (escolher até 3 respostas)

01 – independência
02 - ser trabalhador
03 – responsabilidade
04 - criatividade
05 - tolerância e respeito pelos outros
06 - saber economizar dinheiro e outros bens
07 - determinação e perseverança
08 - ter fé religiosa
09 - não ser egoísta
10 – obediência
11- honestidade

8) Na sua opinião, o que de mais importante (escolha apenas uma alternativa) as escolas ensinam hoje?

( ) conhecimentos importantes para se conseguir um emprego 
( ) conhecimento importante para ser um bom cidadão(ã) 
( ) conhecimentos importantes para ter uma boa vida 
( ) conhecimentos importantes para ser uma boa pessoa

9) Classifique (1 – Nunca; 2 – Raramente; 3 – Às vezes; 4 – Frequentemente e 5 – Sempre). Os alunos hoje em dia:

Tem interesse no estudo
Respeitam os professores
São tolerantes com seus colegas
São responsáveis com suas tarefas escolares
Têm liberdade na escola para expressar suas idéias
São honestos com os seus professores

10) Classifique (1 – Nunca; 2 – Raramente; 3 – Às vezes; 4 – Frequentemente e 5 – Sempre). Os professores hoje em dia:

Tem interesse nos seus alunos
Respeitam os alunos
São tolerantes com os pais dos alunos
São responsáveis com o planejamento das aulas
Têm liberdade na escola para expressar suas idéias
São honestos com os seus alunos

11) Avaliando o seu trabalho nos últimos seis meses, marque o número de vezes em que ocorrem as vivências abaixo descritas. (Em caso de pessoa desempregada, tratar de vivências passadas mesmo que antigas)

Liberdade com a chefia para negociar o que precisa
Liberdade para falar sobre o meu trabalho com os colegas
Solidariedade entre os colegas
Confiança entre os colegas
Liberdade para expressar minhas opiniões no local de trabalho
Liberdade para usar a minha criatividade
Liberdade para falar sobre o meu trabalho com as chefias
Cooperação entre os colegas
Satisfação
Motivação
Orgulho pelo que faço
Bem-estar
Realização profissional
Valorização
Reconhecimento
Identificação com as minhas tarefas
Gratificação pessoal com as minhas atividades
Esgotamento emocional 
Estresse
Insatisfação
Sobrecarga 
Frustração 
Insegurança
Medo 
Falta de reconhecimento do meu esforço
Falta de reconhecimento do meu desempenho
Desvalorização 
Indignação 
Inutilidade 
Desqualificação
Injustiça 
Discriminação 

Comentários