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Mudanças Climáticas e Investimentos

CLIMA

Nicholas Stern: a conta ficou mais alta

Teremos de investir até 3% do PIB global — e não apenas 1% — para conter uma catástrofe ambiental, diz o economista Nicholas Stern



O britânico Nicholas Stern não é um ambientalista de carteirinha. Não milita publicamente na causa há décadas, não faz apologia contra o consumo nem participa de campanhas contra a extinção de animais. Até 2006, Stern era apenas um técnico muito respeitado como ex-economista - chefe e vice-presidente senior do Banco Mundial. Tudo mudou quando, em outubro daquele ano, uma análise feita por ele, sob encomenda do governo britânico, revelou com riqueza de detalhes — e de valores — o quanto as mudanças climáticas seriam prejudiciais à economia do planeta. Segundo o relatório, os prejuízos poderiam custar até 20% do PIB mundial. Foi o alarme necessário necessário para que o problema ambiental, até então na mira apenas das ONGs e dos cientistas, ganhasse a atenção merecida do setor privado. Desde então, Stern é o economista cujo nome está mais associado ao aquecimento global. A pedido do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, ele hoje integra um grupo de especialistas que estudam como as transferências de dinheiro para adaptação às mudanças climáticas podem ocorrer dos países ricos para os emergentes. 



Aos 64 anos, ele também dá aulas na London School of Economics e viaja pelo mundo para se inteirar das políticas climáticas dos países e para contar o que sabe ao setor privado. No dia 10, a convite do varejista Walmart, ele estará no Brasil. Stern falou a EXAME sobre a movimentação dos países — uns mais rápidos, como a China, e outros menos, como os Estados Unidos — rumo à economia verde. E revisou o custo financeiro para evitarmos uma catástrofe ambiental: a estimativa de 1% do PIB mundial feita em 2006 está ultrapassada. A conta hoje deve ficar entre 2% e 3% de toda a riqueza gerada no planeta. 



EXAME — Há quatro anos o senhor calculou que 1% do PIB global deveria ser investido até 2050 no combate ao aquecimento global de forma a evitar uma ruptura na atividade econômica. Esse cenário mudou?

STERN — A ciência climática mostrou que os riscos são muito maiores do que tínhamos previsto e o ritmo dos efeitos muito mais rápido. Por isso, devemos cortar mais emissões do que sugeri na época, e isso deve exigir investimentos em torno de 2%, 3% do PIB. 



Aqui no Brasil há muitas críticas ao baixo comprometimento do governo com as energias renováveis. Quando menciona o Brasil, o senhor fala apenas sobre o combate ao desmatamento. Qual é a sua percepção do país? 

O Brasil está mostrando uma liderança admirável nas questões climáticas, e o presidente Lula foi um dos poucos que emergiram de Copenhague com algum crédito. O Brasil está conseguindo enfrentar o desafio de combater, ao mesmo tempo, o desmatamento e a pobreza, e isso servirá de exemplo para o mundo. O país já é líder em tecnologias de baixo carbono e continuará sendo. 



O senhor diz que o Brasil é líder nessas tecnologias, mas, enquanto a China lucra muito vendendo turbinas eólicas e painéis solares para o exterior, nós exportamos um volume desprezível de etanol. Isso vai mudar? 

O Brasil conquistou por enquanto poucos mercados internacionais para suas tecnologias, mas muito já foi feito no mercado interno. Nos anos que virão, isso vai se provar uma excelente plataforma para a exportação de tecnologias limpas, mas é preciso trabalhar para reduzir as tarifas que incidem sobre elas no mundo, inclusive sobre o etanol. 



Passaram-se sete meses desde o fracasso da grande reunião do clima organizada pela ONU, a Cop-15, em Copenhague, na Dinamarca. Qual é o cenário hoje? 

Ao final de Copenhague havia uma preocupação de que o acordo costurado nos últimos dias do encontro poderia ser muito frágil para ser levado adiante. Ele cobriu, porém, questões relevantes, como o limite de aumento de 2 graus centígrados na temperatura do planeta e uma meta de transferir recursos dos países ricos para os países em desenvolvimento da ordem de 100 bilhões de euros por ano até 2020.


http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/entrevista-economista-nicholas-stern-catastrofe-ambiental-exame-586961.shtml

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