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Programa de Mobilidade Estudantil de Educação Superior no Mercosul

15/10/2010 15:08:41

Mobilidade universitária para criar cidadania do Mercosul

Por Marcela Valente, da IPS 
Para promover o sentido de pertinência e a formação de uma cidadania do Mercosul, foi lançado esta semana um plano de intercâmbio de estudantes universitários de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. O Programa de Mobilidade Estudantil de Educação Superior é financiado pela União Europeia em sua fase-piloto e foi instituído no dia 12, em um ato realizado na Universidade de Buenos Aires (UBA). Em dezembro começará a capacitação de profissionais envolvidos no projeto e a convocação para os estudantes acontecerá no próximo ano.

Para o plano de intercâmbio dentro do Mercosul já se inscreveram 50 universidades públicas e privadas dos quatro países. Cerca de 430 docentes e os funcionários da área de cooperação internacional desses centros poderão participar de 12 paineis de preparação para sua execução. A uruguaia Cristina García, diretora do projeto, com sede em Montevidéu, afirmou à IPS que podem se beneficiar do programa de mobilidade estudantes de qualquer universidade do Mercosul, embora o intercâmbio vá acontecer nos centros participantes de educação superior.
As inscrições para estudantes e sua seleção inicial acontecerá em suas próprias universidades, e a escolha definitiva dependerá de uma comissão integrada por representantes dos quatro países. Aos 180 estudantes que receberão bolsas de estudo será financiada uma viagem a outro país-membro do bloco, para cursar um semestre letivo em uma das universidades que participam da iniciativa. A bolsa inclui viagem, alojamento, eventuais custos de matrícula e outros gastos estabelecidos.
No entanto, para que esse curso seja avaliado pela faculdade do bolsista quando este regressar, é preciso uma logística prévia entre as casas de estudos e os professores, justamente o que acaba de ser colocado em marcha. A iniciativa busca contribuir para superar o baixo sentimento de pertinência coletiva ao Mercosul das sociedades e dos cidadãos que o integram, segundo se depreende de diversos estudos e pesquisas.
Para Cristina, o programa poderá contribuir para a conscientização de integrar um bloco e promover uma cidadania coletiva, para que o Mercosul transcenda o econômico e comercial. Uma pesquisa, que será feita entre os estudantes universitários antes e depois da execução do programa, comprovará se a mobilidade estudantil é uma boa ferramenta para o propósito de impulsionar a identidade do Mercosul.
O antecedente desta iniciativa é o Plano de Ação da Comunidade Europeia para a Mobilidade de Estudantes Universitários, conhecido como Erasmus, por sua sigla em inglês, que desde 1987 beneficia milhões de estudantes e professores da União Europeia (UE) e ao qual somaram-se outros países europeus mas que não pertencem ao bloco. Além de benefícios acadêmicos, o Erasmus promove a identidade e cultura europeias e uma cidadania coletiva que transcende a da própria nacionalidade entre as sociedades dos 27 países que integram a UE.
E há muito caminho pela frente. Cristina reconhece que a fase-piloto do programa cobre uma porção simbólica dos estudantes das universidades do Mercosul, onde se estima que haja atualmente quase quatro milhões de estudantes universitários. “O desafio seria ter em seguida um programa de mobilidade maior para dar continuidade a este projeto e mobilizar muito mais estudantes, mas para isso precisamos que as instituições envolvidas valorizem esta experiência”, afirmou. A valorização deveria traduzir-se em dinheiro.
“Não pode haver um programa de mobilidade estudantil sustentado apenas na cooperação internacional. É necessário que as instituições se comprometam com um fundo comum de bolsas de estudo”, disse Cristina. Para este programa, desenhado pela UBA, a União Europeia entrará com US$ 4,18 milhões, enquanto os países do bloco destinarão US$ 1,4 milhão. Os fundos serão destinados majoritariamente à capacitação de mais de um milhar de funcionários e docentes (US$ 2,84 milhões), enquanto outras quantias serão destinadas à formação de redes acadêmicas (US$ 1,04 milhão) e campanhas de divulgação (US$ 349 mil).
O plano de mobilidade em si custará US$ 700 mil. Por isso, os coordenadores da iniciativa consideram que o esforço de capacitação, que agora é o mais caro, deveria servir para a arrancada de um programa de prazo mais longo. Marcelo Tobin, secretário de Relações Internacionais da UBA e chefe do projeto, explicou à IPS que o crescente bom ambiente nas relações entre UE e Mercosul é um contexto propício para prolongar a ajuda financeira para o programa.
Os dois blocos retomaram este ano as conversações para um tratado de livre comércio e o resultado deste diálogo, que esteve suspenso por alguns anos, pode ser conhecido no final deste ano, durante a cúpula do Mercosul. Se os resultados da experiência-piloto forem positivos, o segundo passo deveria ser um sistema mais amplo, tanto em quantidade de universidades como de estudantes. “Deveria ser um programa de mobilidade do Mercosul”, disse Marcelo, acrescentando que a UBA acredita que a iniciativa será um “agente potencializador” da pertinência ao bloco, sob a premissa de que “a cultura e a educação são poderosos construtores de identidade”.
No horizonte está o desejo de que o plano perdure para criar a “abertura das mentes e a coerência das propostas universitárias”, disse Tobin, recordando que na UE a mobilidade estudantil foi um fator determinante na integração social. Antes, entretanto, devem ser dados todos os passos do plano-piloto. Em dezembro acontecerá em Montevidéu o primeiro painel de capacitação para funcionários da área de cooperação internacional dos ministérios da Educação dos países do bloco.
Nesse mesmo mês vencerá o prazo para apresentação das propostas de redes de intercâmbio acadêmico entre as instituições, e em 2011 continuarão os paineis até meados do ano. Aí, então, será lançado um programa de divulgação para atrair os estudantes. Essa convocação será em setembro de 2011. Uma vez escolhidos os alunos, em março de 2012 estes começarão a cursar um semestre de estudos em outro país do bloco, e para 2013, toda experiência estará concluída. Envolverde/IPS
(IPS/Envolverde)

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